A importância da autorrepresentação nas pessoas com défice intelectual

 

O Défice Intelectual é uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, apresentando diferentes graus de comprometimento cognitivo e funcionamento intelectual. Ao longo dos anos, tem existido uma crescente consciencialização sobre a importância da inclusão e do respeito aos direitos das pessoas com défice intelectual. Nesse contexto, a autorrepresentação das próprias pessoas com défice intelectual tem ganho destaque como um elemento fundamental para a promoção da sua autonomia, dignidade e igualdade.

A autorrepresentação pode ser definida como a capacidade e o direito de as pessoas com défice intelectual se expressarem, partilharem as suas perspetivas e serem ouvidas, em questões que as afetam diretamente. É uma forma de dar voz e poder às próprias pessoas, reconhecendo-as como especialistas das suas próprias vidas. Através da autorrepresentação, elas podem contribuir para a tomada de decisões que impactem o seu bem-estar, as suas necessidades e as suas aspirações.

Um dos principais benefícios da autorrepresentação é que esta desafia estereótipos e preconceitos. Muitas vezes, as pessoas com défice intelectual são vistas apenas como pessoas que necessitam de cuidados, ou como incapazes de tomar decisões informadas. No entanto, quando são encorajadas e capacitadas a expressar as suas opiniões e experiências, elas desafiam essas perceções equivocadas, demonstrando capacidades, desejos e contribuições para a sociedade.

A Autorrepresentação promove a inclusão e a igualdade, ao permitir que essas pessoas participem ativamente de decisões que afetam as suas próprias vidas. Ao serem ouvidas e envolvidas em processos de tomada de decisão, elas podem expressar opiniões, desejos, necessidades e preferências, tendo um impacto positivo na formulação de políticas públicas e na conceção de serviços e suportes adequados às suas necessidades.

A autorrepresentação também fortalece a autoestima e a identidade. Ao terem as suas vozes valorizadas e as suas experiências levadas em consideração, elas sentem-se reconhecidas como indivíduos únicos, com talentos, sonhos e contribuições para oferecer. Esse empoderamento promove a confiança em si mesmas e a sensação de pertença, facilitando o seu desenvolvimento pessoal e social.

Ao participarem ativamente do processo de tomada de decisões, estes jovens trazem perspetivas únicas e conhecimentos práticos que ajudam a criar soluções mais eficazes e inclusivas.

No entanto, é importante destacar que garantir a autorrepresentação das pessoas com défice Intelectual requer um ambiente acolhedor e acessível, onde todos se possam expressar sem medo de discriminação ou estigmatização. É responsabilidade da sociedade em geral criar espaços seguros e inclusivos, onde todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas.

A autorrepresentação das pessoas com défice intelectual é uma componente essencial na luta pela inclusão e pelos direitos humanos. Ao permitir que TODOS tenham voz e poder na defesa das suas próprias necessidades, aspirações e direitos, promovemos uma sociedade mais justa e igualitária.

Como profissional nesta área há cerca de 20 anos, saliento que se torna crucial que governos, instituições, organizações, profissionais de saúde, familiares e a sociedade em geral criem oportunidades e espaços para que as pessoas com défice intelectual sejam ouvidas e respeitadas em todos os aspetos das suas vidas. Somente assim poderemos construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva, onde todos tenham a oportunidade de se expressar, se desenvolver e viver com dignidade.

 

Da autoria de Patrícia Gonçalves, Psicóloga da Associação Algarvia