Formação em Posto de Trabalho na Reabilitação
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A Unidade de Formação Profissional da Associação Algarvia, é uma entidade especializada em Formação Profissional acreditada pela DGERT, que visa promover e desenvolver ações de formação profissional, orientadas para uma população alvo constituída por jovens e adultos, portadores de deficiência intelectual, ou em condição de risco social e abandono escolar. Estas ações têm como objetivo, transmitir os conhecimentos e as competências necessárias à obtenção de uma qualificação que lhes possibilite o ingresso/reingresso no mercado trabalho.

A formação profissional na área da reabilitação, dispõe de percursos formativos adaptados, Integrados no Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ), onde são trabalhadas competências de aprendizagem, pessoais e sociais, existindo simultaneamente uma vertente prática, onde de uma forma experiencial e interativa, são trabalhadas aptidões necessárias num contexto real de trabalho. Com o objetivo de colocar em prática as aprendizagens adquiridas e de cimentar conhecimentos, faz parte do percurso formativo a Formação em Posto de Trabalho (FPT), e, tal como o nome indica, pressupõe a continuidade da formação, mas num contexto laboral, por forma a que o formando usufrua de uma experiência o mais próximo da realidade possível.

Esta etapa ocorre num período mais avançado da formação, permitindo que os formandos reúnam um conjunto de competências que possibilitem um desempenho mais autónomo, onde simultaneamente, sejam identificadas e trabalhadas as dificuldades sentidas.

Na fase que antecipa a FPT, o meu objetivo enquanto Técnica/o de Acompanhamento da Formação em Empresa (TAFE), é perceber quais são as aspirações/necessidades do formando, fazer um levantamento de empresas de acordo com o perfil do jovem/adulto, objetivando que esta, seja uma etapa enriquecedora para ambas as partes envolvidas. É muito importante a participação dos formandos neste momento, de forma a que os mesmos se sintam envolvidos em todo o processo.

Para a procura da empresa mais adequada ao perfil do formando, são considerados fatores, tais como, a localização da empresa, o local de residência do formando, o tipo de empresa onde o formando gostaria de desenvolver FPT, a apetência para determinadas tarefas, bem como a futura probabilidade de integração profissional. Este contacto inicial é feito por nós, TAFES, e tem como objetivo verificar a disponibilidade e sensibilidade para receber os nossos jovens/adultos. Caso estejam reunidas todas as condições para dar início à FPT, é organizado todo o processo burocrático.

Efetuamos um acompanhamento presencial, onde mensalmente, ou sempre que se justifique, são verificados todos os parâmetros de avaliação e são consideradas as dificuldades sentidas tanto por parte da empresa como por parte do formando – o facto da FPT se desenvolver, inicialmente, em alternância com a formação tecnológica, permite que sejam feitos alguns ajustamentos de uma forma eficaz e imediata, com o apoio direto dos formadores da componente tecnológica.

O meu trabalho passa por proporcionar ao formando e à empresa todo o apoio necessário para uma evolução favorável, ao nível das competências sociais, organizacionais e relacionais, que permita a sua integração profissional futura, quer através de um contrato de trabalho, ou de uma medida de apoio à contratação financiada pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) – no decorrer da FPT são avaliadas estas possibilidades com o responsável da empresa.

Quando estão reunidas todas as condições por parte da empresa para que exista uma integração laboral, é feito um acompanhamento do processo e é disponibilizado todo o apoio para alguma questão que se coloque durante esta etapa e no decorrer da mesma. Por vezes não é possível atingir este objetivo, quer por questões de disponibilidade por parte da empresa, mas também por parte dos jovens, que nem sempre se encontram preparados para ingressar no mundo do trabalho, quer por motivos de imaturidade, quer pelo o contexto familiar, quer pelo facto de não terem conseguido consolidar as competências necessárias.

É notado um acréscimo na cooperação por parte do tecido empresarial, no que respeita à receção dos nossos jovens, existindo uma maior sensibilidade e vontade de responderem de forma efetiva ao conceito de responsabilidade social.

Quando os formandos iniciam a FPT, surgem incertezas e receios, que nem sempre nos são transmitidos e que os próprios formandos, consciente ou inconscientemente tentam mascarar. A confiança é um ponto chave no desenvolvimento desta etapa e é fundamental estabelecer uma relação assente nesse valor com o jovem/adulto e também com o responsável da empresa, uma vez que se torna mais fácil encontrar soluções e estratégias para ultrapassar as dificuldades sentidas, de uma forma participativa e articulada entre todas as partes envolvidas.

Sendo esta uma área bastante desafiante, uma vez que trabalhamos com pessoas, todas elas diferentes, na sua individualidade, é essencial ter a capacidade de reconhecer e adaptar a minha intervenção ao contexto e aos seus intervenientes. Nem sempre é fácil e nem sempre temos sucesso na nossa intervenção, mas quando existem integrações profissionais, é vivenciado um sentimento de dever cumprido e de alegria por parte de toda a equipa pedagógica e formativa.

Se por um lado, os nossos jovens estão em processo de aprendizagem teórico-prático, por outro, encontram-se a desenvolver estratégias que lhes permitam aumentar a sua autoestima e consequentemente melhorar a sua autoimagem, e este é um processo que nem sempre é tranquilo e que levanta muitas inseguranças.

A nossa intervenção é realizada de forma integrada e multidisciplinar, abarcando assim, diversas dimensões estruturantes da vida dos nossos jovens /adultos, nomeadamente através do seu desenvolvimento pessoal, o seu bem-estar emocional, físico e material e a sua inclusão social, através da empregabilidade e usufruto de uma plena cidadania.

A FPT para ser bem-sucedida e cumprir com o seu objetivo, requer envolvimento e compromisso de todas as partes. É necessário fomentar valores e incentivar a adoção de estratégias que permitam que os nossos jovens consigam acreditar num futuro com respostas consistentes.

É sempre gratificante quando os nossos jovens/adultos ficam integrados profissionalmente e mantêm o contacto connosco, quer seja numa perspetiva de orientação ou mesmo de partilha do dia-a-dia. Todo o nosso trabalho é compensado quando sabemos que conseguimos contribuir de forma positiva na vida destes jovens/adultos, que somos uma referência e que contam com o nosso apoio mesmo depois do percurso formativo terminar.

 

Da autoria de Andreia Pintassilgo (TAFE)